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Gestão dos Afastamentos - Gestão em SST -

Margem de manobra no retorno ao trabalho

30/09/2020

A capacidade produtiva de um indivíduo pode estar alterada na fase inicial do retorno ao trabalho, após afastamentos de longo prazo. Quando esse retorno se dá mediado pela margem de manobra, a chance do restabelecimento do equilíbrio entre saúde e produtividade é maior. A margem de manobra (MM) é a possibilidade do indivíduo ser produtivo sem causar efeitos adversos na sua saúde. É um espaço de ajustes onde o trabalhador evolui em relação às variações das demandas e condições no trabalho e aquelas relacionadas a sua saúde e capacidade (Figura 1). Este ajuste reflete-se nas atividades de trabalho por meio do desenvolvimento de métodos e estratégias adaptados às diferentes situações de trabalho.

 Figura 1: Modelo de atividade laboral e margem de manobra.

A MM é suficiente no ambiente de trabalho quando promove um adequado ajuste entre a produtividade e a saúde dos trabalhadores. Por outro lado, a MM insuficiente compromete a harmonia no ciclo de atividades do trabalho, alterando o equilíbrio produtividade-saúde, que às vezes se traduz em ausência do trabalho devido a dor ou incapacidade (COUTAREL et al. 2003; DOUILLET AND SCHWEITZER 2002; GAUDARD 2003; GOLLAC E VOLKOFF 2000; VÉZINA 2001).

O processo de criação da MM ocorre no programa de retorno ao trabalho, e inclui como componente principal a exposição progressiva do trabalhador no local/ambiente real de trabalho (tabela 1).

Tabela 1: Passos para um programa de retorno ao trabalho terapêutico e a correspondente Margem de Manobra.

Passos

Programa terapêutico de retorno ao trabalho

Estimativa da Margem de Manobra (MM)

Passo 0

Pré-admissão

Estimativa da MM inicial

Passo 1

Avaliação inicial

Estimativa das MM inicial e potencial

Passo 2

Treinamento do trabalhador e da equipe de saúde quanto as ações no local de trabalho

Elaboração da primeira MM terapêutica

Passo 3

Exposição progressiva do trabalho

Análise, ajuste e criação das MM terapêuticas subsequentes

Passo 4

Fim do programa

Estimativa da MM final

 

Existem quatro tipos de margem de manobra, a inicial, a potencial, a terapêutica e a final. Na Margem de Manobra Inicial (MMi) é avaliada a capacidade laboral que trabalhador tinha antes do afastamento do trabalho. Ela é determinada durante a entrevista inicial. A Margem de Manobra Potencial (MMp) é avaliada pela equipe de saúde/reabilitação durante as primeiras semanas do processo de retorno ao trabalho, inclui o resultado da avaliação inicial, a capacidade do trabalhador observada em um cenário pessoal e nas demandas de trabalho descritas. Refere-se as expectativas de desempenho que a equipe de saúde/reabilitação tem até o final do processo de retorno ao trabalho.

A MMt é mantida ao longo do processo de retorno ao trabalho. Durante o período de exposição gradativa as atividades, o aumento da capacidade do trabalhador e das demandas não é linear. O estado de saúde do trabalhador e as exigências do trabalho podem variar, por isso, a MMt planejada pela equipe de saúde torna-se um meio de preservar o valor terapêutico do retreinamento para o retorno ao trabalho. Procura adequar a exposição ao trabalho com base na condição (capacidade, dor, medos...) e nas características das atividades e dos postos de trabalho. Essas ações são sistematicamente revisadas ​​pela equipe de saúde/reabilitação.

A MMt pode ser considerada, pouco suficiente, insuficiente ou suficiente. Quando considerada pouco suficiente, pode-se programar a ajuda dos colegas de trabalho ao executar a tarefa mais difícil, ou incluir a necessidade de uma pausa na atividade. Pode também ser mantida por mais tempo para melhorar a adaptação do trabalhador. Se é insuficiente, a redução temporária no horário de trabalho ou a modificação no layout físico da estação de trabalho podem ser alternativas. E quando suficiente, o aumento gradual das horas de trabalho e evolução das atividades é continuada. Durante o processo de retorno ao trabalho, as MMts são criadas, sempre que possível, com o objetivo de evoluir as atividades e capacidades do trabalhador para o nível igual ou mais próximo daquele que tinha antes de apresentar a incapacidade.

A Margem de Manobra Final (MMf) é verificada ao termino do processo de retorno ao trabalho. Se for suficiente, favorecerá um retorno ao trabalho sustentável com a capacidade laboral igual ou mais próximo daquela que tinha antes de apresentar a incapacidade.

A utilização da margem de manobra no planejamento multidisciplinar (terapia ocupacional, ergonomia, medicina, fisioterapia) de um retorno ao trabalho permite uma visão comum e a integração entre os profissionais envolvidos. E reflete a interação dinâmica entre o trabalhador, o ambiente/atividades de trabalho, e a sua saúde.


Autores

Ana Cássia Baião de Miranda

Fisioterapeuta | Professora credenciada da Escola SESI de Gestão em SST | Consultor credenciado do Centro de Inovação do SESI em Prevenção da Incapacidade

Lívia Maria Aragão de Almeida Lacerda

Coordenadora do Centro de Inovação em Prevenção de Incapacidade do Serviço Social da Indústria (SESI) | Professora da Escola SESI de Gestão em SST | Médica | Epidemiologista | Mestre em Planejamento e Gestão da Saúde pelo Instituto de Saúde Coletiva da UFBa. 

Newton A. Novis Figueiredo

Médico do trabalho | Professor credenciado da Escola SESI de Gestão em SST | Consultor credenciado do Centro de Inovação do SESI em Prevenção da Incapacidade


REFERÊNCIAS  

Coutarel, F., Daniellou, F., & Dugué, B. (2003). Interroger l’organisation du travail au regard des marges de manoeuvre en conception et en fonctionnement: la rotation est-elle une solution aux TMS? Perspectives Interdisciplinaires sur le Travail et la Santé, 5(2).

Douillet, P., & Schweitzer, J. M. (2002). TMS, stress: Gagner des marges de manoeuvre. Bureau Technique Syndical Européen Newsletter, 19–20, 64–66.

 Gaudard, C. (2003). La baisse de la polyvalence avec l’âge: Question de vieillissement, d’expérience, de génération? Perspectives Interdisciplinaires sur le Travail et la Santé, 5(2).

Gollac, M., & Volkoff, S. (2000). Les conditions de travail. Paris: Éditions La Découverte.

Vézina, N. (2001). Ergonomic practice and musculoskeletal disorders: Openness to interdisciplinarity. Paper presented at the SELF-ACE Conference 2001: Ergonomics for changing work, Montréal, QC.

Outras publicações

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